Pelas estradas do Brasil.


A manhã ensolarada, fazia um convite para um bom banho de cachoeira, mas a ansiedade me levou em direção à cidade, pra casa do Dr. Mário. A carroça de Nhô Lau, parecia motorizada, uma parada brusca me deixou atônito, onde perguntei se algo tinha ocorrido e Nhô Lau repondeu-me que sim. Ele, muito religioso e cristão, pediu que eu descesse da carroça, e ali em pé fez uma oração em agradecimento, onde em suas humildes palavras, mencionou o Salmo 23.

Desci da carroça novamente, onde ali fiz um pacto divino. Minutos depois, chegamos na fazenda, na casa de Elena. Nem precisou bater palmas, parecia ansiosa e veio ao meu encontro. Ao olhar em meus olhos, logo foi perguntando se eu havia chorado. Disse que não. Timidamente ela me abraça, e logo após, cumprimenta Lau, levando-nos para a varanda, onde contei o resumo de toda a história e da maratona que iríamos fazer para trazer de volta o meu velho pai.

O doutor ainda não havia chegado de uma visita de emergência, já quase ao meio-dia, Dr. Mário chega onde prontamente nos recebeu e falamos de todo o ocorrido, introduzidos por Elena, parecia mais ansiosa que nós em resolver o caso, desesperadamente, pediu que seu pai mandasse conosco um de seus motoristas para a busca

- Não é assim filha – disse o; vamos entrar e esquematizar um plano, para que não demos volta em torno de nós mesmos. Primeiro vamos pegar um retrato, vamos levá-la até a gráfica do Ferraz, em seguida mandaremos fazer um clichê e distribuiremos cartazes pela cidade, onde supostamente seu pai tenha passado, as pessoas que o virem, ligarão para o escritório e assim iremos ao encontro.

Foi o que fizemos. Em dois dias, os 50 impressos ficaram prontos e na companhia de um motorista fomos às cidades distribuindo cartazes e nos informando do paradeiro.

As histórias eram de doer o coração, pois papai não tinha as características de um andarilho apesar de ter seus motivos, não eram tão grandes para se tornar um indigente.

Seguimos rumo a cidades e vilas que supostamente, poderiam ser o paradeiro ou local de passagem de andarilhos, folhetos em punho , foram distribuídos por mais de 300 Km de viagem.

Nem bem chegamos a um pequeno posto de combustível, avisto um homem maltrapilho vasculhando, me aproximo e tento dialogar. Ainda retraído de cabeça baixa, ele se afasta sem dizer uma só palavra, numa nova investida o homem esbraveja palavrões , momento em que ofereço um níquel para tomar um café, conseguindo assim convencê-lo a me dar apenas uma informação: se havia visto aquele homem do cartaz. Com suas mãos sujas e seu corpo fedorento, ele apenas menciona:-“Picada de Cobra”! Dormia ali, naquela lata ali, agradeci ao homem, e caminhei até a pensão próxima ao posto para pedir mais informações. Dona Catarina, a proprietária, logo foi elogiando o andarilho, mesmo sem saber quem eu era.

- Conheci sim, moço – disse-me – e tem mais: não comia e não pegava nada sem antes fazer algum trabalho. Olhe em volta da casa! Tudo limpinho, não ficava devarde não, pois antes de deixar a vila fez uma limpeza. só pra te adiantar não disse para onde ia e ainda deixou um saco de linhagem . afinal o que você é dele, perguntou-me.

- Filho-, respondi.

- Moço – continuou -, vá atrás de vosso pai, pois ele é um homem bom. Lembro-me da história da picada de cobra, do filho que deixou, só não quis me dizer porque saiu pro mundão. Aqui, todos o conhecem por “Picada de Cobra”, agora me deixe continuar com o rango que os viajantes já estão chegando.

Tive medo, confesso, de recolher o saco de linhagem. Lau, sem hesitar, tomou a bagagem, ainda cheia de latas, uma manta toda esfarrapada e conhecida , algumas caixas de papelão que serviam como cama ali no local. agradeci as boas informações e como maior agradecimento, fizemos uma rápida refeição e seguimos viagem rumo ao desconhecido. Distribuímos a panfletagem durante dois dias seguidos.

Ao chegarmos na vila da Capelinha no Vale do Ribeira, encontramos fortes vestígios de um homem com as mesmas características, seguimos em direção ao sul.

Na entrada da cidade, continuamos o trabalho de busca, onde logo encontramos mais vestígio, mas desta vez decepcionantes. Onde soubemos que políticos do estado mandaram recolher todos os indigentes em um ônibus e encaminharam para outra cidade do Vale, retornamos à cidade origem, um pouco desesperançosos, mas a vida tinha que continuar.

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