Os sonhos de valsa



Cinco anos se passaram muitas coisas não deixaram de acontecer, eu já estava bastante maduro para encarar uma nova empreitada, poderia até dizer que, já havia ganhado dinheiro suficiente para deixar o escritório imobiliário e fazer aquilo que mais gostava: ter o meu próprio negócio! Quem sabe até uma chácara de plantas ornamentais para exploração, onde já havia encomendado a Lau que procurasse um terreno adequado, pois terrenos vazavam por minhas mãos, mas de bons sonhos, Lau era bom na procura.

Elena já não era mais a mesma menininha, apesar de um espírito jovem e sem muitas vaidades. Era capaz de usar vestido de chita para acompanhar as jovens do bairro, mais sua humildade já fazia dela uma caipirinha interessante. Precisei fazer negócio com um cliente na capital e Elena foi minha companhia. Nunca fui precipitado, mas não gostava de adiar minhas vontades, onde contei a ela meus ideais, deixando-a insegura, mas me apoiou perguntando se realmente era aquilo que queria.

Ao afirmar, ela agarrou-me, e próxima a meus lábios pediu-me sociedade, caso contrário terminaria comigo. Brinquei dizendo que não, ela ficou de costas emburrada, de bico, fazendo charminho para que eu a agarrasse e mordesse suas lindas orelhas, o que fiz prontamente naquela que não era só minha sócia, e sim dona de todas as minhas propriedades.

No sábado seguinte, era a formatura do colegial e por motivo da viagem, talvez não fosse possível acompanhá-los. Dr. Mário obrigatoriamente teria que dançar a valsa, minha mais velha irmã, por parte de mãe, me intimou a ser seu padrinho, onde não poderia deixar de ir, isso na semana seguinte. Apesar de ter perdido a entrada triunfal dos formandos. Pude pegar o baile no final, quis fazer uma surpresa à minha amada, mas uma amiga que me avistou na portaria, foi logo apontando a me ver. Senti Elena errar os passos, seu pai logo percebeu e acenou-me dividindo o tempo nos braços carinhosos e perfumados da mulher que sussurrou em meus ouvidos: - Quero casar contigo André!

- Agora? Perguntei a ela. Respondeu-me: - te amo te amo.

Entre beijos, abraços e elogios, a festa marcou a noite de formatura, não tão bonita quanto a anterior, quando me formei, onde já sentia saudades das carteiras e dos assentos dos móveis, onde cai várias vezes por molecagem dos débeis colegas que suspendiam, quando íamos à lousa e retornávamos, a surpresa: bunda no chão.

Eduarda, mais uma princesinha amiga de Elena, aproximaram-se mais uma vez para se despedir da colega, pois na semana seguinte estaria de mala pronta e definitiva para o exterior, apesar de não ser tão íntimo, participei das lágrimas de Elena, pois era uma grande amiga e estaria de mudança para estudar na França. Antes do abraço final, Eduarda pergunta se Elena decidiu também estudar fora, um pouco distante de mim, olha em minha direção dizendo que talvez não, esperando minha reação.

No caminho de casa, em companhia de seu pai, tento estimular a fazer um curso fora, mesmo contra a minha vontade interior, recebendo uma reação dura por parte da moça, que entendeu que eu queria ficar livre por um certo tempo, onde o paizão, consertou a situação e apoiou a minha atitude ao incentivar o futuro da mulher que um dia iria administrar os negócios do pai.

Passei à noite na casa da família, onde no dia seguinte daria treinamento a um funcionário da empresa que futuramente estaria me substituindo, pois cuidaria agora de meus próprios negócios.

Na última viagem à capital, fiz contato com os produtores que forneciam as sementes e dariam toda a assistência técnica. Com Elena visitamos a chácara escolhida por Lau, fizemos a coleta do solo para análise, onde fui verificar o Ph. Realizada a calação adequada e todo o manejo do solo, sempre acompanhado pela musa que não se intimidava em amassar lama de galocha, é claro, pois a frieira fazia carreiros. De onde ouvi os berros de Lau, que avisava a chegada de mudas, já esperada pelos plantadores de mutirão, coordenados pelo técnico da empresa paulistana. Tão logo, a primeira safra de mudas, entre elas: azaléia, chifrera, hibisco, rosas e outras flores.

Com a chegada da primavera, pude observar o ótimo negócio em que entrei, já com vários pedidos de orçamento o que me dava muito otimismo para investir na propriedade. Lau não era um funcionário comum, era uma espécie de “free lancer chefe”, pois não queria abandonar de vez sua bela chácara para cuidar da minha, mas sempre que podia estava dando assistência, apesar de sua idade um pouco avançada, fez também um curso de paisagismo, e se tornou um jardineiro vaidoso e detalhista. As madames da cidade que o digam, suas floreiras eram de fazer inveja.

Mamãe e meus irmãos tornaram-se funcionários da chácara, onde ajudavam a plantar e cuidar na minha ausência. Nunca ofereci tantos buquês de flores a uma dama como agora, minha sogra também usufruiu do negócio. Reformou todo seu jardim também, a mais bela rosa ela já tinha me dado. Dr. Mário se orgulhava do futuro genro, apesar de não ser chegado a flores, mas já tinha encomendado através de Lau uma cerca viva na chegada sua fazenda.

Após uma semana de muito trabalho na chácara, os bons tempos das unhas de barro e calo voltaram claro que agora, com muito mais conforto e tranqüilidade, mas estaria novamente bem próximo ao cantar dos calos, e gorjear dos pássaros a cada manhã e final de tarde.

Estava até acostumado com o sotaque do interior, sempre da fiúza dos conselhos do velho amigo matuto, da bonita casa sem modéstia de minha propriedade, ouço Lau chamar-me preocupado com a notícia que dizia o seguinte.

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