Encontrado corpo de andarilho


A polícia civil, através de informações, soube que havia encontrado um corpo no km 515, da Br-116, de imediato se dirigiram ao local. Ao chegarem, os policiais Guaraci e Rosângela fizeram um rápido levantamento, e constataram que o corpo achado era do sexo masculino, sem nenhum sinal de violência. Tratava-se de um andarilho natural da cidade de São José dos Espinhares. Por enquanto não se sabe ainda a causa da morte. A equipe de Dr. Antônio Carlos continua investigando para apurar a causa da morte.



Corremos para a delegacia da cidade onde o delegado local mantinha contato com os outros para nos manterem informados, pois com a distribuição dos cartazes, obtivemos várias informações, mas nunca conseguimos chegar ao paradeiro de papai.



O delegado não se encontrava no município causando mais desespero. Voltamos para a vila onde, antes de anoitecer recebemos a cordial visita do Dr. Delegado, que nos informou tratar-se de outro indigente, por nome de Nelson de Lima. Em parte sentimos alívio, sofremos então com a dor da família da vítima, pois quem sabe não estaria na mesma situação que a nossa, digo a minha.



Convidando para ficar para o jantar, o doutor aceitou. Minha mãe que passou uns dias na casa de pau-a-pique, ao lado de sua petição, preparou uma galinha caipira, temperada com cebolinha e majerona, com direito ao belo pirão de farinha de mandioca. Após degustar e receber os elogios do delegado, enquanto a chaleira preparava para receber o café, conversávamos na varanda onde a autoridade chama-nos de canto, Lau e eu, para uma conversa.



Talvez em segredo, como quisesse deixar minha mãe de fora, e nos informou que havia falado com papai, onde vivia na cidade do Rio de Janeiro, mas pediu total segredo, pois sentia muita vergonha da vida que levava e revelou que naquela manhã de 64, foi um basta, pois não agüentava mais a pressão da mulher, mas nunca tinha revelado o fato real de seu desnorteamento vital, que se deu na fazenda que trabalhava do alemão Alois.



Tudo começou, disse ele, quando numa manhã chegou no barracão da fazenda, ainda muito cedo, as cinco da manhã, quando ouviu um gemido contínuo que vinha da cachoeira. Ao aproximar-se do local, flagrou a patroa com o capataz, que todo mundo já desconfiava, mas ele foi o infeliz de campear e achar a sem-vergonhice de Dona Ester, que como uma cadela no cio, traía o patrão em viagem para o sul.



- “Ao perceber-me, o capataz, encostou-me no barracão e ditou as regras: - se falar algo, nós acusamos você de mexer com ela! Juro, não tive medo”, contou-me, mas sentiu-se ameaçado com as juras de morte.



- “Não tive outra saída, eu era de confiança do patrão, pois ele não confiava muito no capataz, mas sua mulher o protegia. Durante vários meses sofri pressão de ambos, onde me proibia de executar meu serviço, para eu pedir a conta ou ser despedido. A patroa insinuava boatos ao patrão, que eu ficava olhando para ela com más intenções, onde ela começa me tratar com indiferença, e passei a descarregar na bebida minha culpa de não poder contar o ocorrido, e por sofrer humilhações constantes de minha esposa, que me chamava de vagabundo”, conta.



- Sabe douto, comenta Lau, é difíce compreende o sê humano, uns pro qualquer coisa se abercedá, mas é coisa do caráter doto, prismarmente as pessoa iguar a nóis, que tivemos uma criação dura. Eu seu como cumpadi sofreu. Pensá que ele, tanto cunfiava nheu, e que nunca me conto esse caso, mais eu cismava do jeito dele. Mais ele vai vortá, num vai doto?



- Vai sim, respondeu.



Lau parecia reviver toda história que outrora percebera. Dr. Kamini, avisou que iria a busca do andarilho Andrelino, só que não poderia levar ninguém, pois se tratava de um trabalho demorado e de investigação, mas prometera trazê-lo de volta, custasse o que custasse. Despediu-se de nós, com sua viatura improvisada num Fusquinha, conhecido como “baratinha” seguiu em direção à cidade, agradecendo pelo jantar, onde nós nos recolhemos sem contar a ninguém.

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