Nota da imprensa


Quem diria o “Sabuguinho de Milho” chegaria ao topo, sem a presença do velho pai, que saiu logo cedo de casa, quando André era apenas um Nhonhô? Mesmo trabalhando em lugares de muitas convivências, não adquiriu nenhum vício, mesmo com os freios de mão injusto dos donos do poder. De caixeiro se transformou em administrador imobiliário, chegando a dono de seu próprio nariz e mais, consagrando-se um grande escritor, relatando a cultura do seu interior; relatou um jornal.


Naquela mesma noite, isso já quase de madrugada fugindo ao costume do interior onde se dorme com as galinhas e acorda com os primeiros cantos dos galos, retornando à vila, eu, Lau, minha mãe que não desgrudava do exemplar, e meus três irmãos, agora já bem jovens.


Desta vez deixei minha mãe em casa com eles, Lau preferiu também ir pra casa então o deixei próximo ao terreno e retornei para minha chácara só, pois desejava refletir sobre o acontecido.


O perfume das flores e a beleza do paraíso faziam de mim um privilegiado e sempre fui grato a Deus por isso.


Assim como meu velho amigo, minha personalidade ainda era enraizada nos tempos do fogão à lenha, tempos em que se praticava a cortesia. O mutirão era o braço do progresso e a fartura realmente existia, sem o artificial.


Lembro-me que a vizinhança ousava perguntar às comadres se elas tinham mistura de café, almoço ou jantar. Tinha-se ou não lá vinha um quarto de frango ou pão caseiro, era um leva e traz que dava gosto como também os causos para atrair o sono. Mas a chegada do caixote falante iluminado conseguiu tirar quase tudo dessa boa época, ninguém lembra mais.


Hoje em dia, é cada um por si e coma se tiver. O sono, já não precisa chegar tão cedo, caixote mudou o horário de repouso das oito as três da manhã. Raramente se ouvem os pássaros, pois nem mesmo árvores eles encontram para pousar, e os vaga-lumes, coitados, foram elogiados pelos excessivos faróis e iluminações artificiais. Enfim, quase tudo é artificial.


Ainda com a janela aberta passo a observar o cantar da encantada cigarra e de alguns vaga-lumes que parecem manter a chama reluzente dos bons tempos de sertão. Ligo o rádio e ouça a música “Estrada da Vida”, com Milionário e José Rico, datada de 1977, só que, na voz de outro cantor, que não recordo o nome. Logo pego no sono e não demora muito, amanhece.


Nem todos os pássaros tinham descido do poleiro e ouço um toc, toc, na porta central. Sonolento, bocejando, ouço um “oh de casa!”, a voz inconfundível de Lau, que por mais que quisesse disfarçar não iria conseguir fingir. Algo de novo ele teria para me contar e, pelo seu semblante não parecia ser algo ruim. Nem bem abro a porta, Lau entra em direção ao fogão para preparar o meu café, onde trouxe embrulhados uma bela berequeca, bijus e picícas, imagino, que o matuto já tenha mandado um virado ou batume.


- Lau! – pergunto – qual a novidade?


- Novidade, responde, lá vem você meu Nhonhô, nada não, é que a produção é boa e carecemo contratá mais camarada.


- Só isso? Pergunto e com um olhar maroto responde que sim. Após o café pede-me que o leve até o seu sítio onde fala com todo o carinho, mas com muita pressa de retornar onde precisaria despachar os caminhões de mudas para o paisagismo do Paço Municipal.


A princípio achei que Lau ia ficar no sítio visto que desceu e se despediu de mim e parecia com medo de revelar algo, voltando atrás, me convida a ir até seu paiol. Enquanto desço, rapidamente ele entra no porão e com um grande sorriso chama-me para ver algo.


- Que foi Lau? Perguntei, e ele respondeu-me.


- Acabou, acabou Deus é bom André, acabou!


Assustado e temeroso entro pelo porão iluminado apenas pelos raios de sol, e lá estava um velho, que não parecia ninguém que um dia pudesse conhecer, mas ao abrir sua boca, aquela voz meiga me chamando de “Sabuguinho de Milho”, me fez tremer. A emoção da saudade, insegurança e felicidade, ja não sabia se abraçava Lau ou meu amado pai.


Por instantes não conseguimos falar nada, só queria pedir-me desculpas. Olhando em seus olhos, lhe disse que sabia de tudo, foi quando se sentiu mais aliviado, pediu que Lau cuidasse dos despachos, pois ele já conhecia todo o trâmite e já havia se acostumado à nova vida, onde um dia me ajudou a ter a oportunidade de chegar aonde cheguei. Enquanto ficava com meu querido velho, cobri-o de perguntas, do tordilho onde ficou, onde passou a primeira noite, se lembrou de mim, o que comia, onde comia, onde dormia como voltou pra casa.


Após um longo questionamento, ali bem juntinho, abraçado, papai contou em detalhes o que se passara em cinco anos longe do nosso lar, e o que mais me emocionou, foi a história de outro andarilho que o convenceu a retornar.

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