A Caminho da Vila


Para a viagem ficar mais gostosa, Nhô Lau levou um radinho de pilha e deixou que eu segurasse, e eu segui com o ouvido colado nele, até que Nhô Lau me despertou com uma pergunta: - Nhonhô, mecê num tem sardade de vosso pai? Fiquei em silêncio, momento este em que ele me abraçou, pois comecei a chorar como um enfarado e perguntei se ele sabia onde meu pai estava, e o porquê dele ter picado a mula. Nhô Lau ficou matutando e apenas me disse que eu era muito pirralho para entender coisa de adulto, só me adiantou que meu pai éra um homem bom e, tudo que estava acontecendo, tinha um motivo e meu pai, jamais ia se esquecer de mim.

                   Ao chegar na Vila, após uma hora viajando uns 13 quilômetros, minha madrinha logo me reconheceu e avisou toda a casa que o “Sabuguinho de milho” ia chegando. Meus irmãos rodearam a charrete. Ainda vergonhentos com a distância familiar, seguraram pela minha mão e me levaram para o interior da casa, juntamente com Nhô Lau que bateu uma pressa de seguir rumo e logo sussurrou: - É Sabuguinho pelo djeito, móque ocê qué ficá qui né? Respondi vagamente que sim. Mas antes acompanhei Nhô Lau até a carroça e perguntei: - Nhô Lau mecê sabe de alguma coisa?

-                     Sei sim Sabuguinho. Óia, num fique aborrido,  qui tudo vai cabar bem, e ... Nesse instante, a madrinha me chamou para tomar café, convidando também meu amigo que agradeceu, pois estava com pressa de chegar a seu destino, que seria mais uns vinte minutos de carroça, mas num deixou de dar uma gorpada na caneca de agate, no café pelando de quente.                  

-                     Aquele ar de surpresa deixou-me perplexo, pois Nhô Lau sabia de algo importante, talvez não do paradeiro de papai, mais sim dos motivos que levaram a sair de casa sem hesitar.

                   Papai era um homem amoroso, familiar e trabalhador. A bebida e o fumo não faziam parte de sua vida, a não ser nos últimos meses que antecederam sua saída.


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