Tempos de dantes


Chovia muito naquela manhã da segunda feira, 12 de fevereiro de 1962. No casebre de pau-a-pique, o cheiro de barro molhado exalava pelos arredores de minha esteira. Pela fresta, entre o barro e a taquara, era agradável ver as gotas de chuva que dissolviam a terra e levava os sabugos de milho deixados pelo Lamarca; o leitãozinho de estimação. Ainda sonolento senti um pingo d’ água em meu nariz que vazou pelo sapé, momento este que minha mãe já com uma vassoura de guanxuma em punho, inquisilhou meu pai. Pela milésima vez, durante os 20 anos de matrimonio, segundo o Doutor Bevilacci, ela sofria de depressão compulsiva hereditária, um mal que deixa a pessoa desequilibradamente agressiva, e não consegue controlar ou conviver com pessoas por mais de três dias sem provocar brigas ou discussão, sendo a personalidade do portador, difícil de desconfiar pela simpatia que reflete pela habilidade e perfeccionismo de suas ações.

                   Decididamente levantou e saiu de mansinho, sem dizer uma palavra, encilhou o seu tordilho e se foi a caminho de vereda. O aguaceiro molhava o arreio envelhecido pelo tempo. Num gesto aborrecido e triste, espia em direção da fresta pela qual eu acostumava ver a criação comendo milho e ciscando o chão.


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